22 de jul. de 2015

Controvérsia Armínio-Calvinista – A origem do Sínodo de Dort.






Um dos grandes embates teológicos modernos teve o seu início no século 17 e sentimos os seus efeitos ou consequências até os dias atuais. Hoje estaremos dando início a uma série de comentários sobre o Calvinismo – especificamente os Cinco pontos do Calvinismo, condensados no acróstico TULIP (Total Depravity, Unconditional Election, Limited Atonement, Irresistible Grace e Perseverance of the Saints). Porém para entendermos esses denominados “Cinco pontos do Calvinismo” temos que voltar no tempo e conhecer os motivos que levaram à criação ou estabelecimento desse conceito denominado como Doutrina da Graça.

Antes de tudo temos que deixar claro que os “Cinco pontos do Calvinismo” originalmente não foram propostos por João Calvino; esses pontos foram estabelecidos 50 anos após a sua morte, e os seus estabelecedores o fizeram na Holanda – o teólogo e pastor João Calvino nasceu na França, porém o seu trabalho ministerial se estabeleceu em Genebra na Suíça, assim suporia que aqueles que os defensores de sua visão teológica aflorassem de uma desses locais, porém o local onde os “cinco pontos foram estabelecidos foi na Holanda. Assim devemos voltar as nossas atenções para uma cidade chamada Dordrecht, pois ele se tornou o centro de uma grande controvérsia teológica.

Para começarmos a entender o assunto temos que nos situar na linha do tempo. Martinho Lutero em 1517 publicou as suas 95 teses – esse momento deu o que chamamos de início da Reforma Protestante. Quatro anos após a publicação de suas teses ele foi convocado a comparecer perante Dieta de Worms com o objetivo de retratar-se diante da Igreja Católica, porém o que ocorreu foi o total e definitivo rompimento com a instituição, pois segundo ele a sua consciência e fidelidade eram para à Palavra de Deus. Em 1536, na cidade de Genebra, João Calvino publicou a primeira edição das Institutas – segundo alguns teólogos a melhor e mais completa sistematização da doutrina protestante. As Institutas sofreram algumas correções e refinos durante 23 anos, e em 1559 a edição definitiva foi lançada, cinco anos antes da morte de João Calvino (1564). Martino Lutero já havia morrido 18 anos antes em 1546. Quando o Sínodo de Dort teve o seu início os dois maiores expoentes da Reforma Protestante já não viviam mais (na terra).

Quando a palavra TULIP ou DORT é mencionado em textos, ou em sites na internet muitos leitores ou ouvintes acham que João Calvino e Jacob a Arminius, travaram calorosos e intermináveis debates, onde eles se digladiavam ferozmente em defesa dos seus respectivos pontos de vista. Mas isso nunca ocorreu, visto que Jacob Arminius tinha apenas 4 anos de idade quando João Calvino veio a falecer. Eles nunca se conheceram.

Toda a trama da nossa história tem como pano de fundo a Igreja Reformada da Holanda. A Holanda era conhecida na época como Países Baixos compreendendo os atuais países: Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Essa região durante o período da reforma protestante era governado pelo então Rei da Espanha Filipe II. Sendo esse um Católico “fervoroso” fez tudo que estava ao seu alcance para coibir o crescimento do movimento protestante em seu território; ele promoveu grande perseguição que levou a muito derramamento de sangue, e estima-se que dezenas de milhares de protestantes tiveram as suas vidas ceifadas durante o governo de Filipe II.

A Holanda era quase que toda protestante, e as investidas do governo espanhol contra eles, levou o povo a se mobilizar contra o governo. Guilherme de Orange conseguiu, depois de muitas tentativas, conquistar a tão sonhada independência, mais tarde consolidada por seu filho Maurício de Nassau. Surgiu assim uma nova nação protestante já que o país era, naquela época, de maioria calvinista. Os novos líderes resolveram adotar a religião reformada como religião oficial, utilizando-a como elemento de integração e estabilidade do novo país. Todos os oficiais da igreja reformada holandesa tinham que jurar seguir a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg.

É digno de nota que nessa época existia uma forte interação entre o estado e a igreja, isso gerou alguns problemas dentro do próprio movimento reformado (Martinho Lutero era a favor de uma separação entre o estado e a igreja, já o seu sucessor Melanchthon esteve mais aberto a união estado-clero. Já os Calvinistas viam o estado como sendo um meio de manter a paz, proteger a igreja e seguir normas bíblicas nas questões civis). Só que na Holanda as igrejas tinham uma autonomia relativamente grande, podendo nomear seus oficiais e exercer disciplina sobre os membros. Esse “poder” ou “autoridade” clerical perturbava alguns membros do Estado. Deste modo em 1591, foi montada uma comissão, para discutir a amplitude da atuação do estado dentro da igreja, e foi proposto que a escolha  de oficiais da igreja passaria a ser feita por uma comissão/grupo de representantes (quatro do Estado e quatro da igreja). Essa comissão foi presidida inicialmente por Johannes van Oldenbarnevelt e Jacob Arminius.

Essa mudança permitiu uma maior interferência do Estado nos assuntos clericais/eclesiásticos. A história nos relata como isso poderia ser perigoso para o desenvolvimento da igreja. Isso fez com que o Calvinismo fosse “estatizado” na Holanda. As outras religiões eram “toleradas”, porém lhes eram privadas a construção de templos, e subsídios estatais e muitos desses “desigrejados” começaram a vir para dentro da Igreja Reformada Holandesa, porém grande parte delas não eram regeneradas, e pior, muitas vezes com elas vinham com segundas intenções – semelhantemente na época de Constantino.

Foi nessas condições que começou o que a história chama de “Controvérsia Arminiana”. Duas questões foram levantadas - uma de cunho doutrinário e outro político eclesiástica.

Primeiro: O ensino de Jacob Arminius era compatível com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg? Esse questionamento foi levantado por que todos os oficias da igreja haviam se comprometido a permanecerem fiéis a ambos os credos.

Segundo: Em caso negativo, a igreja reformada teria poder para destituir aqueles que pregavam doutrinas que iam de encontro com aqueles credos?

A questão da autoridade tornou-se problemática porque o governo insistia em manter nos ofícios eclesiásticos pessoas que a igreja considerava que deviam ser depostas. Dessa forma, entre 1586 e 1618 aumentou muito o número de ministros que permaneciam nas igrejas contra a vontade da congregação e das assembleias eclesiásticas. As igrejas – estremecidas - exigiam a convocação de um sínodo nacional para esclarecer a situação. Porém o governo temendo o crescente poder das igrejas reformadas locais, insistia na não convocação do sínodo.

Foi em meio a tudo isso que Jacob Arminius surgiu - um personagem controverso. Era considerado até pelos seus opositores como sendo um pastor fiel, bom cristão, sóbrio, moderado, homem sincero e de raras habilidades intelectuais. Porém ele sempre foi acusado de ser um homem que sofria de uma certa "duplicidade". Isso ficará claro quando analisarmos a sua história nos próximos parágrafos.

Arminius nasceu em 1560, no sul da Holanda. Estudou em Genebra com Beza - o sucessor de Calvino. Tornou-se em 1588 ministro em Amsterdam. Não foram os escritos de Arminius que chamaram a atenção, mas sim sua pregação não ortodoxa. Ele decidiu fazer pregar expositivamente no livro de Romanos. Os ouvintes ficaram impressionados com a interpretação e exposição dos primeiros capítulos de Romanos, porém foi no capítulo 7 que ele trouxe recebeu uma encurrada de protestos. O texto de Romanos 7:14-15 diz:

"Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.".

Na visão de Arminius esse texto se referia a uma pessoa não regenerada, deste modo contrariando o que os principais exegetas reformados sempre defenderam, ou seja, que o Apóstolo Paulo falava sobre si mesmo, na condição de cristão. Ao pregar em Romanos de 8 a 11, Arminius enfatizou o tempo todo o “Livre-arbítrio” do homem e ao chegar a Romanos 13, afirmou que o Estado tinha a suprema autoridade em assuntos eclesiásticos e religiosos.

Diante disso, um de seus colegas, Petrus Plancius, o denunciou ao concílio para ser investigado, já que os rumores da “nova visão” proposta por Arminius já estava se alastrando por todo o país. Quando inquirido ele confirmava o seu pleno compromisso com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg, no entanto, estava evidente que ele tinha problemas com os artigos que tratavam da doutrina da eleição.

Jacob Arminius foi indicado para lecionar na Universidade de Leiden em 1602, para ocupar a cátedra de um dos seus professores de teologia que havia morrido em decorrência da praga que assolava o País (peste bubônica). Embora ele se enquadrasse perfeitamente para a vaga, havia uma grande preocupação quanto à sua ortodoxia. Assim a sua aceitação ficou nas mãos do Professor/Doutor Franciscus Gomarus que decidiu entrevista-lo sobre os pontos chaves da doutrina Reformada/Calvinista. Franciscus Gomarus era um profundo conhecedor da Palavra e um famoso Calvinista. Arminius foi arguido diante de vários comissários, e rejeitou publicamente as doutrinas pelagianas quanto a graça natural, livre arbítrio, pecado original e predestinação. Também prometeu jamais ensinar qualquer coisa em desacordo com a doutrina oficial das igrejas. Portanto, ele foi aceito como Professor de Teologia da Universidade de Leiden.

Arminius permaneceu firme nas suas promessas ao ministrar as suas aulas públicas – as quais eram supervisionadas pelo concílio. Mas o mesmo não ocorria em aulas particulares. Nessas aulas ele expressava abertamente as suas dúvidas e questionamentos a doutrina Calvinista. Esses alunos foram fortemente influenciados por ele e começaram a propagar alguns desses ensinamentos. Por onde passavam, questionavam duramente a doutrina reformada, atacando-a de diversas formas possíveis.

Arminius permanecia afirmando estar em pleno acordo com a doutrina reformada enquanto disseminava seus novos pontos de vista nos bastidores. Seus adversários o condenam fortemente por demonstrar absoluta falta de caráter fazendo um tipo de "jogo-duplo". Ao mesmo tempo, seus defensores o elogiam dizendo que tudo o que ele fez foi pensando sempre na unidade da universidade e das igrejas.

Diante desse “Jogo-Duplo” as tensões dentro da igreja aumentaram, e em 1607 o sínodo da Holanda do Sul recebeu formalmente queixas contra os ensinamentos de Jacob Arminius. O sínodo convocou Jacob Arminius e o colocou mais uma vez frente a frente com Franciscus Gomarus e os dois expuseram e compararam seus pontos de vista. Novamente Arminius alegou total fidelidade à Confissão Belga e como os delegados não conseguiram perceber grandes diferenças entre o que foi exposto por Arminius e por Gomarus, recomendaram que houvesse “acordo de paz” entre eles. Outra conferência foi convocada em 1609, também não redundando em avanços porém neste mesmo ano Arminius morreu devido a uma tuberculose.

Após a morte de Arminius, o seu ponto de vista teológico foi defendido principalmente por Simon Episcopius e Johannes Uitenbogaard. Em 1610, sob a direção de Johannes  Uitenbogaard, os defensores de Arminius (agora autodenominados Arminianos) se reuniram e elaboraram uma representação/protesto (do inglês remonstrance - por isso eles se tornaram conhecidos como os remonstrantes) a algumas doutrinas calvinistas e estabeleceram 5 artigos com suas próprias posições:

1. A eleição está condicionada à previsão da fé.
2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).
3. Necessária a regeneração para que alguém seja salvo (aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, porém mais tarde ficou claro que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza humana).
4. A possibilidade de resistir à graça.
5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).

Os artigos foram assinados por 46 de seus ministros.

Os calvinistas responderam a esse “protesto” contra a doutrina calvinista. Assim foi formado o grupo conhecido na história como os contra-remonstrantes. Isso ocorreu em 1611.

A convocação do Sínodo

Esse levante dos remonstrantes começou a tomar proporções perigosas, e isso fez com que o estado entrasse em ação. Havia pessoas que estavam utilizando a controvérsia religiosa para incitar rebeliões e outras formas de ação política. Assim, Maurício de Nassau em 11 de novembro de 1617, decidiu que um sínodo nacional deveria ser convocado em 1 de novembro de 1618. Essa foi a pedra fundamental para o surgimento do famoso Sínodo de Dort.

Maurício de Nassau foi encorajado por diversos líderes estatais (um dos grandes incentivadores foi o Rei Tiago I da Inglaterra), a enviar convites a diversos representantes de países reformados para que enviassem delegados para participarem do sínodo. O governo holandês requisitava a cada país que fossem enviados alguns de seus teólogos mais renomados, de proeminente erudição, santidade e sabedoria, que com seu “conselho” e “juízo” pudessem trabalhar diligentemente para apaziguar as diferenças que tinham surgido nas igrejas da Holanda, trazendo paz àquelas igrejas.

O convite de teólogos estrangeiros foi um meio de se obter uma garantia de isenção e neutralidade, pois os remonstrantes alegavam que a igreja da Holanda não era neutra. Outra razão estava ligada ao fato dos remonstrantes alegarem que outras igrejas protestantes compartilhavam da mesma visão que eles, deste modo presença dos delegados estrangeiros poderia minar esta e outras dúvidas similares.

Em 13 de novembro de 1618 foi estabelecido o Sínodo Nacional de Dort. Todas as despesas seriam pagas pelo governo holandês. O sínodo era composto de 84 membros e 18 comissários seculares. Dos 84 membros, 58 eram holandeses, provenientes dos sínodos das províncias, e os demais (26) eram estrangeiros. Todos tinham direito a voto.

Após um culto de oração todos foram para o local das reuniões. O moderador era Johannes Bogerman. A primeira atividade foi o pronunciamento do juramento:

"Prometo, diante de Deus em quem creio e a quem adoro, que está presente neste lugar, e que é o Perscrutador de nossos corações, que durante o curso dos trabalhos deste Sínodo, que examinará não só os cinco pontos e as diferenças resultantes deles mas também qualquer outra doutrina, não utilizarei nenhum escrito humano, mas apenas e tão somente a Palavra de Deus, que é a infalível regra de fé. E durante todas estas discussões, buscarei apenas a glória de Deus, a paz da Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Assim, que me ajude Jesus Cristo, meu Salvador! Rogo para que ele me assista por meio do seu Espírito Santo!"

Os membros foram divididos em 18 comitês. A cada questão proposta ao sínodo, cada um dos comitês formulava sua própria resposta que era depois apresentada ao Sínodo como um todo. O material escrito era entregue aos moderadores que compilavam um texto único. Esse texto era aprovado pelos próprios moderadores ou ia a voto.

O tema principal do Sínodo era o arminianismo. Foram convocados para comparecer diversos teólogos arminianos. Estes se reuniram antes em Rotterdam e nomearam oficiais para representá-los. A estratégia deles era atacar os contra-remonstrantes como sendo fanáticos religiosos. A idéia era centrar forças contra o supralapsarianismo* de Gomarus.

* Supralapsarianismo, segundo o qual os decretos de Deus da eleição e da reprovação precederam logicamente o decreto da queda. Ou seja, o supralapsarismo ordena os decretos divinos de tal maneira que o decreto de Deus, em relação à predestinação dos homens à salvação ou à reprovação, antecede seus decretos de criar os homens e de permitir sua queda. Assim, a sequência resultante seria: 1) Deus decretou salvar certos homens e reprovar outros; Em consequência disso, 2) Deus decretou criar ambos; Em consequência disso, 3) Deus decretou permitir a queda de ambos; Em consequência disso,   4) Deus decretou enviar Cristo para redimir os eleitos; Em consequência disso, 5) Deus decretou enviar o Espírito Santo para aplicar esta redenção aos eleitos.

Simon Episcopius foi escolhido para ser o orador dos remonstrantes. Logo na segunda reunião, ele já se indispôs com todos e usou de uma artimanha típica dos arminianos. Fez duras críticas ao Sínodo, ao governo e ao príncipe Maurício. Quando instado a fornecer uma cópia do discurso, alegou que este estava ilegível. Mais tarde concordou em fornecer uma cópia, mas esta não continha as críticas aos governantes.

A batalha era severa. Os remonstrantes alegavam que o sínodo não tinha competência para julgá-los. Bogerman, o moderador, retrucava dizendo que o sínodo havia sido legalmente constituído pelo poder público. Os remonstrantes deveriam ter aceitado esse argumento, já que sempre defenderam que o estado é a autoridade máxima nas questões religiosas e eclesiásticas. Ao serem convidados a colocar no papel suas divergências em relação à Confissão Belga, os remonstrantes negaram-se a obedecer. Quando Bogerman perguntou sobre o reconhecimento dos artigos da representação de 1610, estes permaneceram calados.

Como os remonstrantes dificultavam demais os trabalhos, em 14 de janeiro de 1619 Bogerman perguntou a eles definitivamente se eles iriam comportar-se e submeter-se ao Sínodo. Eles responderam que não se submeteriam ao Sínodo. Irritado, Bogerman mandou-os embora sem consultar os demais membros do conselho. A análise dos questionamentos Arminianos passaram a ser analisados através de suas opiniões escritos. O principal documento analisado pelo sínodo foi a representação de 1610 com seus 5 artigos.

O documento final, os Cânones de Dort, foi formulado em 93 artigos, separados em 5 pontos de doutrina. O documento foi assinado por todos os delegados em 23 de Abril de 1619. Foram ao todo 154 reuniões ao longo de sete meses. Prevaleceu a interpretação ortodoxa.

Muitos consideram injustas as medidas tomadas após o sínodo. Afinal, mais de 200 ministros remonstrantes foram depostos de seus cargos. Alguns se retrataram e retornaram às suas funções, mas boa parte foi definitivamente banida. Mas é bom lembrar que o que hoje seria considerado, talvez, indevida perseguição religiosa, era uma prática absolutamente comum a todas as religiões e países da época.

Temos que ter em mente que muitos dos ministros remonstrantes eram mantidos em seus cargos mesmo quando eles deliberadamente violavam o juramento que fizeram de manterem-se fiéis à confissão belga e ao catecismo de Heidelberg, isso era conseguido por meio do apoio e ardis de políticos poderosos. Enquanto isso, os mesmos políticos perseguiam os contra-remonstrantes chegando ao ponto, em algumas situações, de impedi-los de ter acesso aos locais de culto. A controvérsia Arminiana eram freqüentemente usadas para fins políticos.

Temos que lembrar que outras religiões eram toleradas na Holanda naquele período, apesar de não poderem construir templos próprios. Entre estes haviam peregrinos, luteranos, anabatistas e até mesmo católicos romanos. Mas nenhum deles ameaçava a igreja "de dentro" como faziam os arminianos.

O Sínodo de Dort foi extremamente importante por ter revelado a tentativa dos arminianos de diminuírem/suprimirem a soberania de Deus na salvação, engrandecendo o papel do homem na sua própria salvação, colocando o homem acima do próprio Deus, tendo o controle total sobre si mesmos. Diante da visão Arminiana Deus tem que se sucumbir aos desejos e desígnios de sua própria Criação!

Em resposta aos cinco pontos divergentes apresentados pelos remontrantes, os delegados do Sínodo de Dort propuseram o que hoje conhecemos como sendo os “cinco pontos do calvinismo” e um acróstico foi criado para facilitar a lembrança de cada ponto.
A esse acróstico deu-se o nome de TULIP:

Total depravação
Uma eleição incondicional
Limitada expiação
Irresistível graça
Perseverança dos santos

É importante salientar que a doutrina reformada não se resume aos “cinco pontos do calvinismo”. Os cinco pontos além de serem uma resposta direta aos “cinco pontos do Arminianismo”, buscando demonstrar a diferença entre os dos Calvinistas e Arminianos, principalmente na relação da soberania de Deus e a salvação – soteriologia monergista. O ensino de Calvino é muito mais amplo e abrangente e, não se resumem apenas aos cinco pontos.

Nós acreditamos que existe a necessidade de se conhecer profundamente as origens de nossas crenças, para que não sejamos lançados de um lado para outro como um barco sem leme em uma tempestade ou como ovelhas sem pastor, e reconhecer que durante a história da igreja várias doutrinas como a Trindade e a dupla natureza de Cristo, a Eleição, Predestinação estiveram sob ataque porém homens corajosos, compromissados com a verdade e tementes a Deus, sempre se levantaram e se levantarão para batalhar "diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” - Judas 3.

Irmãos esse foi apenas o primeiro artigo de uma série de artigos que trataremos de cada letra do acróstico TULIP. Antes de tratarmos de um assunto é sempre importante conhecer o que levou a tal resolução. Assim nos próximos dias iremos destrinchar sobre esse maravilhoso tema que enaltece o nosso Deus, e coloca o homem no devido lugar dele. E conhecer as Doutrinas da Graça nos ajudará a discernir entre a verdadeira adoração, entre o verdadeiro louvor, entre o verdadeiro Evangelho. Deste modo esperamos que os irmãos possam se deleitar com esses estudos sobre as Doutrinas da Graça – TULIP.

Abaixo segue-se uma lista de textos bíblicos que os irmãos poderão consultar para aumentar a compreensão das Doutrinas da Graça.

Total depravação:

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:Gn 2:17; Gn 6:5; Gn 8:21 / 1Rs 8:46 / Jo 14:4 / Sl 51:5 / Sl 58:3 / Ec 7:20 Is 64:6 / Jr 4:22; Jr 9:5-6; Jr 13:23; Jr 17:9 / Jo 3:3; Jo 3:19; Jo 3:36;Jo 5:42; Jo 8:43,44 / Rm 3:10-11; Rm 5:12; Rm 7:18, 23; Rm 8:7 /1Co 2:14 / 2Co 4:4 / Ef 2:3 / Ef 4:18 / 2Tm 2:25-26 / 2Tm 3:2-4 / Tt 1:15

Eleição incondicional

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:Dt 4:37; Dt 7:7-8 / Pv 16:4 / Mt 11:25; Mt 20:15-16; Mt 22:14 / Mc 4:11-12 Jo 6:37; Jo 6:65; Jo 12:39-40; Jo 15:16 / At 5:31; At 13:48; At 22:14-15 /Rm 2:4; Rm 8:29-30; Rm 9:11-12; Rm 9:22-23; Rm 11:5; Rm 11:8-10 /Ef 1:4-5; Ef 2:9-10 / 1Ts 1:4; 1Ts 5:9 / 2Ts 2:11-12; 2Ts 3:2/ 2Tm 2:10,19/1 Pe 2:8 / 2 Pe 2:12 / Tt 1:1 / 1Jo 4:19 / Jd 1:3-4 / Ap 13:8; Ap 17:17

Limitada expiação

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:1Sm 3:14 / Is 53:11-12 / Mt 1:21; Mt 20:28; Mt 26:28 / Jo 10:14-15 /Jo 11:50-53; Jo 15:13; Jo 17:6,9,10 / At 20:28 / Rm 5:15 / Ef 5:25 / Tt 3:5 /Hb 9:28 / Ap 5:9

Irresistível graça

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:Jr 24:7 / Ez 11:19-20; Ez 36:26-27 / Mt 16:17 / Jo 1:12-13; Jo 5:21; Jo 6:37; Jo 6:44-45 / At 16:14; At 18:27 / 1Co 4:7 / 2Co 5:17 / Gl 1:15 / Rm 8:30 / Ef 1:19-20 / Cl 2:13 / 2Tm 1:9 / 1Pe 2:9; 1Pe 5:10 / Hb 9:15

Perseverança dos santos

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:Is 54:10 / Jr 32:40 / Mt 18:14 / Jo 6:39; Jo 6:51; Jo 10:27-29 / Rm 5:8-10; Rm 8:28-32, Rm 8:34-39; Rm 11:29 / Gl 2:20 / Ef 4:30 / Fp 1:6 / Cl 2:14 /2Ts 3:3 / 2Tm 2:13,19 / Hb 7:25; Hb 10:14 / 1Pe 1:5 / 1Jo 5:18 / Ap 17:14

Graça e Paz
Por Leandro Rocha


 

Um comentário:

  1. Paz do Senhor irmão Leandro,
    Entrar nesse blog é sempre uma alegria e uma surpresa. Quando me deparei com as palavras Armínio e Calvinista e logo em seguida Sínodo de Dort, posso dizer que o meu coração bateu mais forte. Embora o irmão tenha deixado claro em sua biografia resumida no final do texto que não possui formação teológica formal, ou seja, não tenha cursado um seminário, percebo que tanto você quanto o irmão Márcio dedica um grande tempo estudando os temas Bíblicos. Nesse texto em especial o irmão demonstrou um profundo conhecimento histórico e doutrinal relacionado com a história da igreja reformada. O irmão conseguiu traçar uma linha interligando Lutero, Calvino e Armínio com os principais problemas sociais que estavam se infiltrando dentro da Holanda no início do Século XVII, e digamos de passagem que foram problemas bem similares ao que a igreja cristão enfrentou no 4° século com a estatização da Religião. Ficou bem claro no texto a preocupação com a ortodoxia doutrinal, e como Armínio se mostrou dúbio diante do confronto.
    Alegro-me em poder desfrutar de páginas como a sua que lutam por manter a verdade acima dos achismos góspels. Deus tem abençoado muito os irmãos que estão dedicando tempo e estudo para nos alimentar.

    Graça e Paz

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