31 de out. de 2016

499 anos da Reforma Protestante - As 95 Teses que mudaram o Mundo




Por ocasião da comemoração dos 499 anos da Reforma Protestante, gostaríamos de compartilhar as 95 teses da justificação pela fé, que o Monge Agostiniano Martinho Lutero fixou no portão da igreja de Wittenberg, com o objetivo de promover um debate acerca dos problemas que ele enxergava na igreja, a saber, a venda de indulgencias, penitências visando a absolvição de pecados e a necessidade de reforçar a salvação pela a Fé.

Queremos reforçar que o movimento da “reforma” da igreja surgiu bem antes de Lutero, diversos clérigos ao examinarem a escritura e compararem com a instituição católica propuseram ajustes, porém os seus clamores foram sufocados, mas não esquecidos. Entre esses pré-reformadores temos:

Os Valdenses (1174)
Os Albigenses (1209)
John Tauler (1300-1361)
John Wycliffe (1328 - 1384)
Os Lolardos (1387)
John Huss (1373-1415)
Jerônimo Savonarola (1452-1498)
William Tyndale (1484-1536)

Esses homens e mulheres lutaram por aquilo que posteriormente se tornou o lema da reforma protestante:  

SOLA FIDE - Somente a Fé
SOLA SCRIPTURA - somente a Escritura
SOLUS CHRISTUS - somente Cristo
SOLA GRATIA - somente a Graça
SOLI DEO GLORIA - Glória somente a Deus

Busquemos no dia de hoje meditar nas lutas que os nossos irmãos tiveram que enfrentar para que viéssemos a ter a oportunidade de ler a Bíblia em nossa língua materna, de possuir um exemplar pessoal da Bíblia, de reconhecer que somente podemos ser justificados pela Fé, e que somente ao perscrutarmos as sagradas escrituras reconhecemos a necessidade de um salvador que é Cristo, e que quando nos rendemos a ele, ele nos agracia com a sua justificação, justificação essa que não é para nos enaltecer, pelo o contrário é para que reconheçamos a Glória de Deus.

Abaixo temos as 95 Teses de Martinho Lutero afixadas na igreja de Wittenberg:


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Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1 Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.

7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.

15 Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.

18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza.

20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.

30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.

36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.

37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.

39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.

40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto.

41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.

44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.

49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59 S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.

61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa por si só é suficiente.

62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.

64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois faz dos últimos os primeiros.

65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.

68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.

69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.

71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram defraudar a santa caridade e verdade.

75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.

77 A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar, etc., como está escrito em 1 Co 12.

79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.

81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.

82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão insignificante?

83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84 Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?

85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso já há muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?

88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.
1517 A.D.

Quando meditarmos nessas 95 Teses, devemos recordar-mos das palavras de um precursor da Reforma Protestante John Huss que foi morto na fogueira em 1415: "Hoje vocês assarão um ganso magro, mas em cem anos ouvirão um cisne cantar. Não serão capazes de assá-lo e nenhuma armadilha ou rede poderá segurá-lo". Exatamente 100 anos após esse episódio Martinho Lutero começava a lecionar a carta do Apóstolo Paulo aos Romanos onde ele foi convencido da justificação pela fé com base em Romanos 1:17, o acontecimento que acabou desencadeando a Reforma Protestante. Lembremos que a igreja é de nosso Senhor, e ele a guia da maneira que lhe aprover, segundo os seus eternos propósitos.

Outros Reformadores contemporâneos e pós Lutero:

# Felipe Melancton
# Ulrico Zuínglio
# Meno Simons
# Guilhermo Farel
# Martin Bucer
# João Calvino
# John Knox
# Teodoro Beza
# Thomás Cranmer
  
Graça e Paz

Leandro Rocha

26 de jun. de 2016

Um Calvinista diante da Grande Comissão – O Ide...




O importante teólogo americano Dr. R. C. Sproul, quando esse ainda era estudande de tologia na classe John Gerstner, na disciplina História da Igreja se deparou com uma questão importante concernente ao evangelismo. Em determinada aula, o professor discorreu sobre a predestinação e, como era de seu costume começou a fazer perguntas aos alunos. Sproul estava sentado no final de um grande semicírculo. Gerstner começou pela outra ponta. Ele disse: “Respondam-me agora: Se a predestinação é verdadeira, por que deveríamos fazer evangelismo?”. O primeiro aluno simplesmente respondeu: “Não sei”. O professor se dirigiu ao próximo na roda, que disse: “Derrubou-me!”. O próximo seminarista respondeu: “Estou contente que o senhor tenha levantado essa questão, porque sempre tentei encontrar essa resposta”. O professor foi percorrendo todo o semicírculo, indagando aos seus alunos um por um. Sproul estava encolhido em seu canto se sentindo como um personagem dos diálogos de Platão. Cheio de temor, ele também aguardava a sublime resposta para o impenetrável mistério daquela pergunta. Por fim, Gerstner chegou até ele e perguntou: “Bem, Sr. Sproul, imagino que o senhor tenha a nossa resposta. Se a predestinação é verdadeira, por que deveríamos fazer evangelismo?”. Ele lembra que deslizou em sua cadeira e começou a desculpar-se: “Bem, professor Gerstner, sei que isso não é o que o senhor está querendo, e sei que deve estar procurando alguma resposta intelectual e profunda que não estou preparado para dar. Contudo, ocorre-me um pequeno ponto que acho que deveríamos observar aqui: Deus nos manda evangelizar”. O professor abriu um largo sorriso e disse: “Exato, Sr. Sproul. Deus nos manda evangelizar”. E prosseguiu irônico: “E o que poderia ser mais insignificante do que o fato de o Senhor da glória, o Salvador de sua alma, o Senhor Deus onipotente, tê-lo mandado evangelizar?” (Discernindo a Vontade de Deus, Sproul, R. C, 1977, p. 127-128 e Fundamentos da Fé Cristã, Boice, James Montgomery, 2011,p. 563-564).

Um tema que recorrentemente vem nas minhas conversas (afirmo de antemão que não sou eu que introduzo esse assunto nas conversas) é o tema da responsabilidade humana frente a ordem de Jesus – o que chamamos de a Grande Comissão. Muitas vezes os Calvinistas são tachados de incoerentes, pois pregamos a eleição e predestinação divina quanto a Salvação, e os opositores a essa visão nos questionam quanto ao trabalho evangelístico, dizendo: Se Deus já determinou quem vai ou não ser salvo, por que evangelizar? Sempre que me deparo com essas afirmações faço minhas as palavras de R. C. Sproul: “Deus nos manda evangelizar”. Reconheço que não sei como Deus determina os que serão ou não salvos – isso cabe a Ele somente – porém eu tenho que obedecer a sua ordem e ir ao mundo proclamar o Evangelho da Salvação.

Essa “Grande Comissão” é relatada 5 vezes no Novo Testamento, uma vez em cada um dos evangelhos e uma no capítulo inicial de Atos dos Apóstolos:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus 28:18-20

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. - Marcos 16:15,16

“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.” - Lucas 24:45-47

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.” - João 20:21
“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” - Atos 1:8

Em cada uma das vezes que a “Grande Comissão” foi apresentada aos leitores, foi mostrado um aspecto ou ângulo diferente, assim faz-se necessário analisar cada uma das apresentações para conseguirmos entender com maior profundidade esse chamado Divino.

Hoje estaremos dando início a uma série de cinco mensagens falando sobre esse tema, iniciando por Mateus 28:18-20.

Primeiramente comecemos pelo o relato de Mateus, relatado no capítulo 28:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus 28:18-20

Esse relato é o mais conhecido dos cinco, e nos apresenta uma realidade que Mateus estava querendo apresentar aos seus leitores – a autoridade Divina de Jesus. Para entender esse ponto devemos recorrer a um relato descrito no evangelho de João capítulos 18 e 19. Os judeus já haviam prendido Jesus, já tinham feito o seu julgamento na calada da noite, as escondidas, porém eles queriam mais, queriam matar Jesus, para isso eles o levaram diante do governador da província da Judéia Pôncio Pilatos. Pilatos intrigado com o pedido pergunta a Jesus:

Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? – João 18:33

Ao fazer essa pergunta Pilatos esta ciente da profundidade e magnitude dos fatos, ele como governados da província era conhecedor das profecias sobre o surgimento do Messias – o libertador de Israel – que iria libertar os Judeus das mãos dos opressores e levar a nação a liberdade e prosperidade. Estava ciente da mensagem pregada por João Batista – arrependei-vos, pois é chegado o reino dos Céus – e provavelmente conhecia o trabalho que Jesus desempenhava nas províncias, e ainda havia o relato de sua esposa - E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. Mateus 27:19. Ou seja, Pilatos quando indagou Jesus ele queria saber: É você o Messias de Israel? É você o Libertador desse Povo? Tem você mais autoridade que eu o governador? Porém Jesus o respondeu:

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. João 18:36-38

Jesus respondeu a pergunta de Pilatos, porém Pilatos não compreendeu completamente a resposta. Ao dizer “O meu Reino não é deste mundo” ele estava dizendo:

Eu não sou somente Rei dos Judeus, pelo o contrário EU SOU O REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.

Ao dizer que o seu Reino não fazia parte desse mundo, ele estava indicando claramente a magnitude e vastidão de seu poder – homens desse mundo lutam por terras, por divisas e marcações, mas aquele que reina sobre o outro mundo (o espiritual) é muito mais poderoso do que qualquer rei terreno. Ele estava na terra para apresentar a verdade aos homens, apresentar a salvação aos homens, porém os homens livremente optaram por sujeitar-se as suas vaidades e repudiaram a verdade. A sua autoridade excedia infinitamente a de homens como Alexandre, o Grande, Júlio César, Augusto César e Pôncio Pilatos. Esse homem literalmente viu a “Verdade”, e diante dela percebeu a “inverdade” dos Escribas e Fariseus, e isso o motivou a buscar a libertação do nosso Senhor. Entretanto existia uma questão que Pilatos não tinha levado em conta – se ele não é rei dos Judeus, de onde é o seu Reino? Diante disso o Apóstolo João nos diz:

Ao verem-no, os principais sacerdotes e os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum. Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado ficou, e, tornando a entrar no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem. – João 19:6-11

Os Fariseus e Escribas estavam tomados por um desejo de sangue, eles queriam a qualquer custo matar Jesus, e ao verem Pilatos, começaram a gritar pela a crucificação dELE, porém eles não poderiam matar a Jesus sem a aprovação do governador, e eles disseram: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Essa declaração caiu como uma pedra sobre Pilatos, era como se as coisas começassem a se encaixar em sua mente: O meu Reino não é deste mundo... ele fez a si mesmo filho de Deus... agia como uma ovelha muda... Isso fez com que ele questionasse a Jesus sobre a sua procedência, porém Jesus não o respondeu e isso o deixou irado ao pondo de ele dizer: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Pilatos acabou agindo pela a impulsão, emoção e temor e deixou aflorar a arrogância do seu íntimo. Pilatos colocou-se diante de Jesus com superioridade, ele literalmente estava dizendo: somente eu tenho poder para te salvar. Sem mim você está perdido. Diante dessa afirmação veemente de Pilatos, o nosso Senhor mostra quem realmente tem autoridade: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”, uma singela resposta, porém profunda em poder. O nosso Senhor deixa claro a Pilatos que ele não tem nenhum poder sobre a seu julgamento, vida ou morte, e que a sua tão estimada “autoridade” só foi possível por que Deus assim o quis. Ou seja, do princípio ao fim, tudo estava nas mãos de Deus.

Tendo esse relato em mente observamos em Mateus o real significado das palavras do Senhor Jesus aos seus Apóstolos e Discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” Aqueles homens viram Jesus ser preso, julgado, açoitado, espancado, crucificado e morto porém após 3 dias ele ressuscitou em Glória, e agora esse mesmo homem que havia passado por todas as “tormentas” está dizendo: “Vocês viram tudo o que eu passei, o quanto eu sofri, porém os que me causaram dano não tinham poder sobre mim, não tinham autoridade sobre a minha vida, pelo o contrário, todos eles estavam e estão sujeitos ao meu pai e mim, pois agora TODA A AUTORIDADE NOS CÉUS, NA TERRA E DEBAIXO DA TERRA é minha, por isso digo: Confie em mim, pois sempre estarei ao lado de vocês.” Quando olhamos para a cena do dia 14 de Nisã tudo parece terminado, sem esperança, porém ao terceiro dia juntamente com o raiar do sol, uma nova esperança surge – O REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES está de pé e marchando juntamente com o seu povo eleito rumo ao novo céu e a nova terra. É isso que Mateus declara, não devemos temer os homens que julgaram/açoitaram/mataram a Jesus, não devemos temer os povos bárbaros, não devemos ficar tímidos e acanhados com a mensagem do evangelho, pois tudo está sobre o controle de Jesus, todos nós estamos debaixo de sua autoridade, e mesmo que nessa empreitada viermos a perecer, temos a certeza que da mesma maneira que Jesus ressuscitou nós seremos ressuscitado. Assim devemos obedecer a ordem de nosso Senhor, Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações... pois sabemos que aquele que ordena é fiel e verdadeiro, e sempre que abrirmos as nossas bocas com a verdade do evangelho, estamos agindo como embaixadores de Cristo, porta-vozes do Senhor,  e aqueles que foram ELEITOS ao ouvirem as boas novas serão tocados, e levados ao arrependimento, como nos diz o Apóstolo Paulo em Romanos 8:29,30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Como Paulo deixou claro aprouve Deus trazer os seus escolhidos através da pregação da palavra – através da evangelização! Assim não devemos temer aos homens, antes devemos manter a coragem, e pregar aos 4 ventos tendo em mente a certeza que Deus trará para sí os seus, e fitos na promessa: E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século!!!
Por Leandro Rocha
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Próxima postagem – Marcos 16:15,16