Por ocasião da comemoração dos 499 anos da Reforma
Protestante, gostaríamos de compartilhar as 95 teses da justificação pela fé,
que o Monge Agostiniano Martinho Lutero fixou no portão da igreja de Wittenberg, com o objetivo de promover um debate
acerca dos problemas que ele enxergava na igreja, a saber, a venda de
indulgencias, penitências visando a absolvição de pecados e a necessidade de
reforçar a salvação pela a Fé.
Queremos reforçar que o movimento da “reforma” da
igreja surgiu bem antes de Lutero, diversos clérigos ao examinarem a escritura
e compararem com a instituição católica propuseram ajustes, porém os seus
clamores foram sufocados, mas não esquecidos. Entre esses pré-reformadores
temos:
Os Valdenses (1174)
Os Albigenses (1209)
John Tauler (1300-1361)
John Wycliffe (1328 - 1384)
Os Lolardos (1387)
John Huss (1373-1415)
Jerônimo Savonarola (1452-1498)
William Tyndale (1484-1536)
Esses homens e mulheres lutaram por aquilo que
posteriormente se tornou o lema da reforma protestante:
SOLA FIDE - Somente a Fé
SOLA SCRIPTURA - somente a Escritura
SOLUS CHRISTUS - somente Cristo
SOLA GRATIA - somente a Graça
SOLI DEO GLORIA - Glória somente a Deus
Busquemos no dia de hoje meditar nas lutas que os
nossos irmãos tiveram que enfrentar para que viéssemos a ter a oportunidade de
ler a Bíblia em nossa língua materna, de possuir um exemplar pessoal da Bíblia,
de reconhecer que somente podemos ser justificados pela Fé, e que somente ao perscrutarmos
as sagradas escrituras reconhecemos a necessidade de um salvador que é Cristo,
e que quando nos rendemos a ele, ele nos agracia com a sua justificação,
justificação essa que não é para nos enaltecer, pelo o contrário é para que
reconheçamos a Glória de Deus.
Abaixo temos as 95 Teses de Martinho Lutero afixadas
na igreja de Wittenberg:
--
Por amor à verdade e
no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a
presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa
Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta
razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco
oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor
Jesus Cristo. Amém.
1 Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor
e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental
(isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a
penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de
mortificação da carne.
4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo
(isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos
céus.
5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas
que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando
que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados
para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.
7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo,
sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os
mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este,
em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam
aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do
purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da
absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as
leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo
grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.
15 Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras
coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do
horror do desespero.
16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o
desespero, o semidesespero e a segurança.
17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror
diminua na medida em que cresce o amor.
18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem
da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento
no amor.
19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam
certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa
parte, tenhamos plena certeza.
20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende
simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a
pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena
que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele,
certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada
por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral,
qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das
chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda
lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a
cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser
resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.
30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de
haver conseguido plena remissão.
31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire
autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles
que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências
do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é
reconciliada com Deus.
34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de
satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição
àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.
36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão
pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.
37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação
em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de
indulgência.
38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem
ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.
39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o
povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.
40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a
abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião
para tanto.
41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas,
para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas
obras do amor.
42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a
compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de
misericórdia.
43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao
necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna
melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas
mais livre da pena.
45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia
para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a
ira de Deus.
46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância,
devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar
dinheiro com indulgência.
47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e
não constitui obrigação.
48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa,
assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu
favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.
49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se
não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o
temor de Deus por causa delas.
50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos
pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro
a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu
dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de
indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse
necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências,
mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia
pelas mesmas.
53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação
de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica
tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são
o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma
cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma
centena de sinos, procissões e cerimônias.
56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não
são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto
que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes
sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o
inferno do ser humano exterior.
59 S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma,
empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram
proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.
61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder
do papa por si só é suficiente.
62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e
da graça de Deus.
63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz
com que os primeiros sejam os últimos.
64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e
com razão, pois faz dos últimos os primeiros.
65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora
se pescavam homens possuidores de riquezas.
66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje
se pesca a riqueza dos homens.
67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores
graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.
68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação
com a graça de Deus e a piedade na cruz.
69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os
comissários de indulgências apostólicas.
70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e
atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus
próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.
71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das
indulgências apostólicas.
72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e
licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma,
procuram defraudar o comércio de indulgências,
74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências,
procuram defraudar a santa caridade e verdade.
75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de
poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso
fosse possível, é loucura.
76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem
anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.
77 A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente,
poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.
78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa,
tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar,
etc., como está escrito em 1 Co 12.
79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente
erguida, equivale à cruz de Cristo.
80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que
semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.
81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil,
nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou
perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.
82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do
santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa
de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do
funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão
insignificante?
83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos
falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as
doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos
redimidos?
84 Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa
do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de
Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e
dileta, por amor gratuito?
85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso
já há muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela
concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos
mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma
basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela
contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?
88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja
do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse
essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas
do o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas,
se são igualmente eficazes?
90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela
força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à
zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o
espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente
respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo:
"Paz, paz!" sem que haja paz!
93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo:
"Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!
94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo,
seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;
95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas
tribulações do que pela segurança da paz.
1517 A.D.
Quando
meditarmos nessas 95 Teses, devemos recordar-mos das palavras de um precursor
da Reforma Protestante John Huss que foi morto na fogueira em 1415: "Hoje
vocês assarão um ganso magro, mas em cem anos ouvirão um cisne cantar. Não
serão capazes de assá-lo e nenhuma armadilha ou rede poderá segurá-lo".
Exatamente 100 anos após esse episódio Martinho Lutero começava a lecionar a
carta do Apóstolo Paulo aos Romanos onde ele foi convencido da justificação
pela fé com base em Romanos 1:17, o acontecimento que acabou desencadeando a
Reforma Protestante. Lembremos que a igreja é de nosso Senhor, e ele a guia da
maneira que lhe aprover, segundo os seus eternos propósitos.
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Reformadores contemporâneos e pós Lutero:
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