26 de jun. de 2016

Um Calvinista diante da Grande Comissão – O Ide...




O importante teólogo americano Dr. R. C. Sproul, quando esse ainda era estudande de tologia na classe John Gerstner, na disciplina História da Igreja se deparou com uma questão importante concernente ao evangelismo. Em determinada aula, o professor discorreu sobre a predestinação e, como era de seu costume começou a fazer perguntas aos alunos. Sproul estava sentado no final de um grande semicírculo. Gerstner começou pela outra ponta. Ele disse: “Respondam-me agora: Se a predestinação é verdadeira, por que deveríamos fazer evangelismo?”. O primeiro aluno simplesmente respondeu: “Não sei”. O professor se dirigiu ao próximo na roda, que disse: “Derrubou-me!”. O próximo seminarista respondeu: “Estou contente que o senhor tenha levantado essa questão, porque sempre tentei encontrar essa resposta”. O professor foi percorrendo todo o semicírculo, indagando aos seus alunos um por um. Sproul estava encolhido em seu canto se sentindo como um personagem dos diálogos de Platão. Cheio de temor, ele também aguardava a sublime resposta para o impenetrável mistério daquela pergunta. Por fim, Gerstner chegou até ele e perguntou: “Bem, Sr. Sproul, imagino que o senhor tenha a nossa resposta. Se a predestinação é verdadeira, por que deveríamos fazer evangelismo?”. Ele lembra que deslizou em sua cadeira e começou a desculpar-se: “Bem, professor Gerstner, sei que isso não é o que o senhor está querendo, e sei que deve estar procurando alguma resposta intelectual e profunda que não estou preparado para dar. Contudo, ocorre-me um pequeno ponto que acho que deveríamos observar aqui: Deus nos manda evangelizar”. O professor abriu um largo sorriso e disse: “Exato, Sr. Sproul. Deus nos manda evangelizar”. E prosseguiu irônico: “E o que poderia ser mais insignificante do que o fato de o Senhor da glória, o Salvador de sua alma, o Senhor Deus onipotente, tê-lo mandado evangelizar?” (Discernindo a Vontade de Deus, Sproul, R. C, 1977, p. 127-128 e Fundamentos da Fé Cristã, Boice, James Montgomery, 2011,p. 563-564).

Um tema que recorrentemente vem nas minhas conversas (afirmo de antemão que não sou eu que introduzo esse assunto nas conversas) é o tema da responsabilidade humana frente a ordem de Jesus – o que chamamos de a Grande Comissão. Muitas vezes os Calvinistas são tachados de incoerentes, pois pregamos a eleição e predestinação divina quanto a Salvação, e os opositores a essa visão nos questionam quanto ao trabalho evangelístico, dizendo: Se Deus já determinou quem vai ou não ser salvo, por que evangelizar? Sempre que me deparo com essas afirmações faço minhas as palavras de R. C. Sproul: “Deus nos manda evangelizar”. Reconheço que não sei como Deus determina os que serão ou não salvos – isso cabe a Ele somente – porém eu tenho que obedecer a sua ordem e ir ao mundo proclamar o Evangelho da Salvação.

Essa “Grande Comissão” é relatada 5 vezes no Novo Testamento, uma vez em cada um dos evangelhos e uma no capítulo inicial de Atos dos Apóstolos:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus 28:18-20

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. - Marcos 16:15,16

“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.” - Lucas 24:45-47

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.” - João 20:21
“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” - Atos 1:8

Em cada uma das vezes que a “Grande Comissão” foi apresentada aos leitores, foi mostrado um aspecto ou ângulo diferente, assim faz-se necessário analisar cada uma das apresentações para conseguirmos entender com maior profundidade esse chamado Divino.

Hoje estaremos dando início a uma série de cinco mensagens falando sobre esse tema, iniciando por Mateus 28:18-20.

Primeiramente comecemos pelo o relato de Mateus, relatado no capítulo 28:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus 28:18-20

Esse relato é o mais conhecido dos cinco, e nos apresenta uma realidade que Mateus estava querendo apresentar aos seus leitores – a autoridade Divina de Jesus. Para entender esse ponto devemos recorrer a um relato descrito no evangelho de João capítulos 18 e 19. Os judeus já haviam prendido Jesus, já tinham feito o seu julgamento na calada da noite, as escondidas, porém eles queriam mais, queriam matar Jesus, para isso eles o levaram diante do governador da província da Judéia Pôncio Pilatos. Pilatos intrigado com o pedido pergunta a Jesus:

Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? – João 18:33

Ao fazer essa pergunta Pilatos esta ciente da profundidade e magnitude dos fatos, ele como governados da província era conhecedor das profecias sobre o surgimento do Messias – o libertador de Israel – que iria libertar os Judeus das mãos dos opressores e levar a nação a liberdade e prosperidade. Estava ciente da mensagem pregada por João Batista – arrependei-vos, pois é chegado o reino dos Céus – e provavelmente conhecia o trabalho que Jesus desempenhava nas províncias, e ainda havia o relato de sua esposa - E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. Mateus 27:19. Ou seja, Pilatos quando indagou Jesus ele queria saber: É você o Messias de Israel? É você o Libertador desse Povo? Tem você mais autoridade que eu o governador? Porém Jesus o respondeu:

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. João 18:36-38

Jesus respondeu a pergunta de Pilatos, porém Pilatos não compreendeu completamente a resposta. Ao dizer “O meu Reino não é deste mundo” ele estava dizendo:

Eu não sou somente Rei dos Judeus, pelo o contrário EU SOU O REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.

Ao dizer que o seu Reino não fazia parte desse mundo, ele estava indicando claramente a magnitude e vastidão de seu poder – homens desse mundo lutam por terras, por divisas e marcações, mas aquele que reina sobre o outro mundo (o espiritual) é muito mais poderoso do que qualquer rei terreno. Ele estava na terra para apresentar a verdade aos homens, apresentar a salvação aos homens, porém os homens livremente optaram por sujeitar-se as suas vaidades e repudiaram a verdade. A sua autoridade excedia infinitamente a de homens como Alexandre, o Grande, Júlio César, Augusto César e Pôncio Pilatos. Esse homem literalmente viu a “Verdade”, e diante dela percebeu a “inverdade” dos Escribas e Fariseus, e isso o motivou a buscar a libertação do nosso Senhor. Entretanto existia uma questão que Pilatos não tinha levado em conta – se ele não é rei dos Judeus, de onde é o seu Reino? Diante disso o Apóstolo João nos diz:

Ao verem-no, os principais sacerdotes e os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum. Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado ficou, e, tornando a entrar no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem. – João 19:6-11

Os Fariseus e Escribas estavam tomados por um desejo de sangue, eles queriam a qualquer custo matar Jesus, e ao verem Pilatos, começaram a gritar pela a crucificação dELE, porém eles não poderiam matar a Jesus sem a aprovação do governador, e eles disseram: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Essa declaração caiu como uma pedra sobre Pilatos, era como se as coisas começassem a se encaixar em sua mente: O meu Reino não é deste mundo... ele fez a si mesmo filho de Deus... agia como uma ovelha muda... Isso fez com que ele questionasse a Jesus sobre a sua procedência, porém Jesus não o respondeu e isso o deixou irado ao pondo de ele dizer: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Pilatos acabou agindo pela a impulsão, emoção e temor e deixou aflorar a arrogância do seu íntimo. Pilatos colocou-se diante de Jesus com superioridade, ele literalmente estava dizendo: somente eu tenho poder para te salvar. Sem mim você está perdido. Diante dessa afirmação veemente de Pilatos, o nosso Senhor mostra quem realmente tem autoridade: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”, uma singela resposta, porém profunda em poder. O nosso Senhor deixa claro a Pilatos que ele não tem nenhum poder sobre a seu julgamento, vida ou morte, e que a sua tão estimada “autoridade” só foi possível por que Deus assim o quis. Ou seja, do princípio ao fim, tudo estava nas mãos de Deus.

Tendo esse relato em mente observamos em Mateus o real significado das palavras do Senhor Jesus aos seus Apóstolos e Discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” Aqueles homens viram Jesus ser preso, julgado, açoitado, espancado, crucificado e morto porém após 3 dias ele ressuscitou em Glória, e agora esse mesmo homem que havia passado por todas as “tormentas” está dizendo: “Vocês viram tudo o que eu passei, o quanto eu sofri, porém os que me causaram dano não tinham poder sobre mim, não tinham autoridade sobre a minha vida, pelo o contrário, todos eles estavam e estão sujeitos ao meu pai e mim, pois agora TODA A AUTORIDADE NOS CÉUS, NA TERRA E DEBAIXO DA TERRA é minha, por isso digo: Confie em mim, pois sempre estarei ao lado de vocês.” Quando olhamos para a cena do dia 14 de Nisã tudo parece terminado, sem esperança, porém ao terceiro dia juntamente com o raiar do sol, uma nova esperança surge – O REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES está de pé e marchando juntamente com o seu povo eleito rumo ao novo céu e a nova terra. É isso que Mateus declara, não devemos temer os homens que julgaram/açoitaram/mataram a Jesus, não devemos temer os povos bárbaros, não devemos ficar tímidos e acanhados com a mensagem do evangelho, pois tudo está sobre o controle de Jesus, todos nós estamos debaixo de sua autoridade, e mesmo que nessa empreitada viermos a perecer, temos a certeza que da mesma maneira que Jesus ressuscitou nós seremos ressuscitado. Assim devemos obedecer a ordem de nosso Senhor, Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações... pois sabemos que aquele que ordena é fiel e verdadeiro, e sempre que abrirmos as nossas bocas com a verdade do evangelho, estamos agindo como embaixadores de Cristo, porta-vozes do Senhor,  e aqueles que foram ELEITOS ao ouvirem as boas novas serão tocados, e levados ao arrependimento, como nos diz o Apóstolo Paulo em Romanos 8:29,30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Como Paulo deixou claro aprouve Deus trazer os seus escolhidos através da pregação da palavra – através da evangelização! Assim não devemos temer aos homens, antes devemos manter a coragem, e pregar aos 4 ventos tendo em mente a certeza que Deus trará para sí os seus, e fitos na promessa: E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século!!!
Por Leandro Rocha
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