O importante teólogo americano Dr. R.
C. Sproul, quando esse ainda era estudande de tologia na classe John Gerstner,
na disciplina História da Igreja se deparou com uma questão importante concernente ao evangelismo. Em determinada aula, o professor discorreu
sobre a predestinação e, como era de seu costume começou a fazer perguntas aos
alunos. Sproul estava sentado no final de um grande semicírculo. Gerstner
começou pela outra ponta. Ele disse: “Respondam-me agora: Se a predestinação é
verdadeira, por que deveríamos fazer evangelismo?”. O primeiro aluno
simplesmente respondeu: “Não sei”. O professor se dirigiu ao próximo na roda,
que disse: “Derrubou-me!”. O próximo seminarista respondeu: “Estou contente que
o senhor tenha levantado essa questão, porque sempre tentei encontrar essa
resposta”. O professor foi percorrendo todo o semicírculo, indagando aos seus
alunos um por um. Sproul estava encolhido em seu canto se sentindo como um
personagem dos diálogos de Platão. Cheio de temor, ele também aguardava a
sublime resposta para o impenetrável mistério daquela pergunta. Por fim,
Gerstner chegou até ele e perguntou: “Bem, Sr. Sproul, imagino que o senhor
tenha a nossa resposta. Se a predestinação é verdadeira, por que deveríamos
fazer evangelismo?”. Ele lembra que deslizou em sua cadeira e começou a
desculpar-se: “Bem, professor Gerstner, sei que isso não é o que o senhor está
querendo, e sei que deve estar procurando alguma resposta intelectual e
profunda que não estou preparado para dar. Contudo, ocorre-me um pequeno ponto
que acho que deveríamos observar aqui: Deus nos manda evangelizar”. O professor
abriu um largo sorriso e disse: “Exato, Sr. Sproul. Deus nos manda
evangelizar”. E prosseguiu irônico: “E o que poderia ser mais insignificante do
que o fato de o Senhor da glória, o Salvador de sua alma, o Senhor Deus
onipotente, tê-lo mandado evangelizar?” (Discernindo a Vontade de Deus, Sproul,
R. C, 1977, p. 127-128 e Fundamentos da Fé Cristã, Boice, James Montgomery,
2011,p. 563-564).
Um tema que recorrentemente
vem nas minhas conversas (afirmo de
antemão que não sou eu que introduzo esse assunto nas conversas) é o tema
da responsabilidade humana frente a ordem de Jesus – o que chamamos de a Grande Comissão. Muitas vezes os
Calvinistas são tachados de incoerentes, pois pregamos a eleição e predestinação
divina quanto a Salvação, e os opositores a essa visão nos questionam quanto ao
trabalho evangelístico, dizendo: Se Deus já determinou quem vai ou não ser
salvo, por que evangelizar? Sempre que me deparo com essas afirmações faço minhas
as palavras de R. C. Sproul: “Deus nos manda evangelizar”. Reconheço que não
sei como Deus determina os que serão ou não salvos – isso cabe a Ele somente –
porém eu tenho que obedecer a sua ordem e ir ao mundo proclamar o Evangelho da
Salvação.
Essa “Grande Comissão” é
relatada 5 vezes no Novo Testamento, uma vez em cada um dos evangelhos e uma no
capítulo inicial de Atos dos Apóstolos:
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes,
dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.
E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus
28:18-20
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem,
porém, não crer será condenado”. - Marcos 16:15,16
“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem
as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e
ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse
arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de
Jerusalém.” - Lucas 24:45-47
“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz
seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.” - João 20:21
“mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” - Atos 1:8
Em cada uma das vezes que a
“Grande Comissão” foi apresentada aos leitores, foi mostrado um aspecto ou
ângulo diferente, assim faz-se necessário analisar cada uma das apresentações
para conseguirmos entender com maior profundidade esse chamado Divino.
Hoje estaremos dando início a uma série de cinco mensagens falando sobre esse tema, iniciando por Mateus 28:18-20.
Primeiramente comecemos
pelo o relato de Mateus, relatado no capítulo 28:
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes,
dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E
eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” - Mateus 28:18-20
Esse relato é o mais
conhecido dos cinco, e nos apresenta uma realidade que Mateus estava querendo
apresentar aos seus leitores – a autoridade Divina de Jesus. Para entender esse
ponto devemos recorrer a um relato descrito no evangelho de João capítulos 18 e
19. Os judeus já haviam prendido Jesus, já tinham feito o seu julgamento na
calada da noite, as escondidas, porém eles queriam mais, queriam matar Jesus, para
isso eles o levaram diante do governador da província da Judéia Pôncio Pilatos.
Pilatos intrigado com o pedido pergunta a Jesus:
Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? – João 18:33
Ao fazer essa pergunta
Pilatos esta ciente da profundidade e magnitude dos fatos, ele como governados
da província era conhecedor das profecias sobre o surgimento do Messias – o
libertador de Israel – que iria libertar os Judeus das mãos dos opressores e
levar a nação a liberdade e prosperidade. Estava ciente da mensagem pregada por
João Batista – arrependei-vos, pois é chegado o reino dos Céus – e
provavelmente conhecia o trabalho que Jesus desempenhava nas províncias, e
ainda havia o relato de sua esposa - E,
estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse
justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. Mateus 27:19. Ou
seja, Pilatos quando indagou Jesus ele queria saber: É você o Messias de
Israel? É você o Libertador desse Povo? Tem você mais autoridade que eu o
governador? Porém Jesus o respondeu:
Respondeu Jesus: O meu reino não é
deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam
por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é
daqui. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que
sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho
da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe
Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu
não acho nele crime algum. João 18:36-38
Jesus respondeu a pergunta
de Pilatos, porém Pilatos não compreendeu completamente a resposta. Ao dizer “O
meu Reino não é deste mundo” ele estava dizendo:
Eu
não sou somente Rei dos Judeus, pelo o contrário EU SOU O REI DOS REIS E SENHOR
DOS SENHORES.
Ao dizer que o seu Reino
não fazia parte desse mundo, ele estava indicando claramente a magnitude e
vastidão de seu poder – homens desse mundo lutam por terras, por divisas e
marcações, mas aquele que reina sobre o outro mundo (o espiritual) é muito mais poderoso do que qualquer rei terreno.
Ele estava na terra para apresentar a verdade aos homens, apresentar a salvação
aos homens, porém os homens livremente optaram por sujeitar-se as suas vaidades
e repudiaram a verdade. A sua autoridade excedia infinitamente a de homens como
Alexandre, o Grande, Júlio César, Augusto César e Pôncio Pilatos. Esse homem literalmente
viu a “Verdade”, e diante dela percebeu a “inverdade” dos Escribas e Fariseus,
e isso o motivou a buscar a libertação do nosso Senhor. Entretanto existia uma
questão que Pilatos não tinha levado em conta – se ele não é rei dos Judeus, de
onde é o seu Reino? Diante disso o Apóstolo João nos diz:
Ao verem-no, os principais sacerdotes e
os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o
vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum. Responderam-lhe
os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque
a si mesmo se fez Filho de Deus. Pilatos, ouvindo tal declaração,
ainda mais atemorizado ficou, e, tornando a entrar no pretório, perguntou a
Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Então, Pilatos o advertiu: Não me
respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te
crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima
não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior
pecado tem. – João 19:6-11
Os Fariseus e Escribas
estavam tomados por um desejo de sangue, eles queriam a qualquer custo matar
Jesus, e ao verem Pilatos, começaram a gritar pela a crucificação dELE,
porém eles não poderiam matar a Jesus sem a aprovação do governador, e eles disseram:
Temos uma lei, e, de conformidade com a
lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. Essa
declaração caiu como uma pedra sobre Pilatos, era como se as coisas começassem
a se encaixar em sua mente: O meu Reino não é deste mundo... ele fez a si mesmo
filho de Deus... agia como uma ovelha muda... Isso fez com que ele questionasse
a Jesus sobre a sua procedência, porém Jesus não o respondeu e isso o deixou
irado ao pondo de ele dizer: Não me
respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te
crucificar? Pilatos acabou agindo pela a impulsão, emoção e temor e deixou
aflorar a arrogância do seu íntimo. Pilatos colocou-se diante de Jesus com
superioridade, ele literalmente estava dizendo: somente eu tenho poder para te salvar. Sem mim você está perdido.
Diante dessa afirmação veemente de Pilatos, o nosso Senhor mostra quem
realmente tem autoridade: “Nenhuma
autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”, uma singela
resposta, porém profunda em poder. O nosso Senhor deixa claro a Pilatos que ele
não tem nenhum poder sobre a seu julgamento, vida ou morte, e que a sua tão
estimada “autoridade” só foi possível por que Deus assim o quis. Ou seja, do
princípio ao fim, tudo estava nas mãos de Deus.
Tendo esse relato em mente observamos em Mateus o real significado das
palavras do Senhor Jesus aos seus Apóstolos e Discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” Aqueles homens
viram Jesus ser preso, julgado, açoitado, espancado, crucificado e morto porém
após 3 dias ele ressuscitou em Glória, e agora esse mesmo homem que havia
passado por todas as “tormentas” está dizendo: “Vocês viram tudo o que eu passei, o quanto eu sofri, porém os que me
causaram dano não tinham poder sobre mim, não tinham autoridade sobre a minha
vida, pelo o contrário, todos eles estavam e estão sujeitos ao meu pai e mim,
pois agora TODA A AUTORIDADE NOS CÉUS, NA TERRA E DEBAIXO DA TERRA é minha, por
isso digo: Confie em mim, pois sempre estarei ao lado de vocês.” Quando
olhamos para a cena do dia 14 de Nisã tudo parece terminado, sem esperança,
porém ao terceiro dia juntamente com o raiar do sol, uma nova esperança surge –
O REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES está de pé e marchando juntamente com o
seu povo eleito rumo ao novo céu e a nova terra. É isso que Mateus declara, não
devemos temer os homens que julgaram/açoitaram/mataram a Jesus, não devemos
temer os povos bárbaros, não devemos ficar tímidos e acanhados com a mensagem
do evangelho, pois tudo está sobre o controle de Jesus, todos nós estamos
debaixo de sua autoridade, e mesmo que nessa empreitada viermos a perecer, temos
a certeza que da mesma maneira que Jesus ressuscitou nós seremos ressuscitado.
Assim devemos obedecer a ordem de nosso Senhor, Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações... pois sabemos
que aquele que ordena é fiel e verdadeiro, e sempre que abrirmos as nossas
bocas com a verdade do evangelho, estamos agindo como embaixadores de Cristo,
porta-vozes do Senhor, e aqueles que
foram ELEITOS ao ouvirem as boas novas serão tocados, e levados ao
arrependimento, como nos diz o Apóstolo Paulo em Romanos 8:29,30: “Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou.” Como Paulo deixou claro aprouve
Deus trazer os seus escolhidos através da pregação da palavra – através da evangelização!
Assim não
devemos temer aos homens, antes devemos manter a coragem, e pregar aos 4 ventos
tendo em mente a certeza que Deus trará para sí os seus, e fitos na promessa: E eis que
estou convosco todos os dias até à consumação do século!!!
Por Leandro Rocha
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