Um dos grandes embates teológicos modernos teve o seu início no século
17 e sentimos os seus efeitos ou consequências até os dias atuais. Hoje
estaremos dando início a uma série de comentários sobre o Calvinismo –
especificamente os Cinco pontos do Calvinismo, condensados no acróstico TULIP (Total Depravity, Unconditional Election,
Limited Atonement, Irresistible Grace e Perseverance of the Saints). Porém
para entendermos esses denominados “Cinco pontos do Calvinismo” temos que
voltar no tempo e conhecer os motivos que levaram à criação ou estabelecimento
desse conceito denominado como Doutrina da Graça.
Antes de tudo temos que deixar claro que os “Cinco pontos do Calvinismo”
originalmente não foram propostos por João Calvino; esses pontos foram
estabelecidos 50 anos após a sua morte, e os seus estabelecedores o fizeram na
Holanda – o teólogo e pastor João Calvino
nasceu na França, porém o seu trabalho ministerial se estabeleceu em Genebra na
Suíça, assim suporia que aqueles que os defensores de sua visão teológica
aflorassem de uma desses locais, porém o local onde os “cinco pontos foram
estabelecidos foi na Holanda. Assim devemos voltar as nossas atenções para
uma cidade chamada Dordrecht, pois ele se tornou o centro de uma grande
controvérsia teológica.
Para começarmos a entender o assunto temos que nos situar na linha do
tempo. Martinho Lutero em 1517 publicou as suas 95 teses – esse momento deu o
que chamamos de início da Reforma Protestante. Quatro anos após a publicação de
suas teses ele foi convocado a comparecer perante Dieta de Worms com o objetivo
de retratar-se diante da Igreja Católica, porém o que ocorreu foi o total e definitivo
rompimento com a instituição, pois segundo ele a sua consciência e fidelidade
eram para à Palavra de Deus. Em 1536, na cidade de Genebra, João Calvino publicou
a primeira edição das Institutas – segundo
alguns teólogos a melhor e mais completa sistematização da doutrina protestante.
As Institutas sofreram algumas correções e refinos durante 23 anos, e em 1559 a
edição definitiva foi lançada, cinco anos antes da morte de João Calvino (1564).
Martino Lutero já havia morrido 18 anos antes em 1546. Quando o Sínodo de Dort
teve o seu início os dois maiores expoentes da Reforma Protestante já não
viviam mais (na terra).
Quando a palavra TULIP ou DORT é mencionado em textos, ou em sites na
internet muitos leitores ou ouvintes acham que João Calvino e Jacob a Arminius,
travaram calorosos e intermináveis debates, onde eles se digladiavam ferozmente
em defesa dos seus respectivos pontos de vista. Mas isso nunca ocorreu, visto
que Jacob Arminius tinha apenas 4 anos de idade quando João Calvino veio a
falecer. Eles nunca se conheceram.
Toda a trama da nossa história tem como pano de fundo a Igreja Reformada
da Holanda. A Holanda era conhecida na época como Países Baixos compreendendo
os atuais países: Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Essa região durante o período
da reforma protestante era governado pelo então Rei da Espanha Filipe II. Sendo
esse um Católico “fervoroso” fez tudo que estava ao seu alcance para coibir o
crescimento do movimento protestante em seu território; ele promoveu grande
perseguição que levou a muito derramamento de sangue, e estima-se que dezenas
de milhares de protestantes tiveram as suas vidas ceifadas durante o governo de
Filipe II.
A Holanda era quase que toda protestante, e as investidas do governo
espanhol contra eles, levou o povo a se mobilizar contra o governo. Guilherme
de Orange conseguiu, depois de muitas tentativas, conquistar a tão sonhada
independência, mais tarde consolidada por seu filho Maurício de Nassau. Surgiu assim
uma nova nação protestante já que o país era, naquela época, de maioria
calvinista. Os novos líderes resolveram adotar a religião reformada como
religião oficial, utilizando-a como elemento de integração e estabilidade do
novo país. Todos os oficiais da igreja reformada holandesa tinham que jurar
seguir a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg.
É digno de nota que nessa época existia uma forte interação entre o
estado e a igreja, isso gerou alguns problemas dentro do próprio movimento
reformado (Martinho Lutero era a favor de
uma separação entre o estado e a igreja, já o seu sucessor Melanchthon esteve
mais aberto a união estado-clero. Já os Calvinistas viam o estado como sendo um
meio de manter a paz, proteger a igreja e seguir normas bíblicas nas questões
civis). Só que na Holanda as igrejas tinham uma autonomia relativamente
grande, podendo nomear seus oficiais e exercer disciplina sobre os membros. Esse
“poder” ou “autoridade” clerical perturbava alguns membros do Estado. Deste
modo em 1591, foi montada uma comissão, para discutir a amplitude da atuação do
estado dentro da igreja, e foi proposto que a escolha de oficiais da igreja passaria a ser feita
por uma comissão/grupo de representantes (quatro
do Estado e quatro da igreja). Essa comissão foi presidida inicialmente por
Johannes van Oldenbarnevelt e Jacob Arminius.
Essa mudança permitiu uma maior interferência do Estado nos assuntos
clericais/eclesiásticos. A história nos relata como isso poderia ser perigoso
para o desenvolvimento da igreja. Isso fez com que o Calvinismo fosse
“estatizado” na Holanda. As outras religiões eram “toleradas”, porém lhes eram
privadas a construção de templos, e subsídios estatais e muitos desses
“desigrejados” começaram a vir para dentro da Igreja Reformada Holandesa, porém
grande parte delas não eram regeneradas, e pior, muitas vezes com elas vinham
com segundas intenções – semelhantemente na época de Constantino.
Foi nessas condições que começou o que a história chama de “Controvérsia
Arminiana”. Duas questões foram levantadas - uma de cunho doutrinário e outro político
eclesiástica.
Primeiro: O ensino de Jacob Arminius era compatível
com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg? Esse questionamento foi
levantado por que todos os oficias da igreja haviam se comprometido a
permanecerem fiéis a ambos os credos.
Segundo: Em caso negativo, a igreja reformada teria
poder para destituir aqueles que pregavam doutrinas que iam de encontro com
aqueles credos?
A questão da autoridade tornou-se problemática porque o governo insistia
em manter nos ofícios eclesiásticos pessoas que a igreja considerava que deviam
ser depostas. Dessa forma, entre 1586 e 1618 aumentou muito o número de
ministros que permaneciam nas igrejas contra a vontade da congregação e das assembleias
eclesiásticas. As igrejas – estremecidas
- exigiam a convocação de um sínodo nacional para esclarecer a situação. Porém
o governo temendo o crescente poder das igrejas reformadas locais, insistia na
não convocação do sínodo.
Foi em meio a tudo isso que Jacob Arminius surgiu - um personagem controverso. Era considerado até pelos seus opositores
como sendo um pastor fiel, bom cristão, sóbrio, moderado, homem sincero e de
raras habilidades intelectuais. Porém ele sempre foi acusado de ser um homem
que sofria de uma certa "duplicidade". Isso ficará claro quando
analisarmos a sua história nos próximos parágrafos.
Arminius nasceu em 1560, no sul da Holanda. Estudou em Genebra com Beza
- o sucessor de Calvino. Tornou-se em
1588 ministro em Amsterdam. Não foram os escritos de Arminius que chamaram a
atenção, mas sim sua pregação não ortodoxa. Ele decidiu fazer pregar expositivamente
no livro de Romanos. Os ouvintes ficaram impressionados com a interpretação e
exposição dos primeiros capítulos de Romanos, porém foi no capítulo 7 que ele
trouxe recebeu uma encurrada de protestos. O texto de Romanos 7:14-15 diz:
"Porque bem
sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão
do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não
faço o que prefiro, e sim o que detesto.".
Na visão de Arminius esse texto se referia a uma pessoa não regenerada, deste
modo contrariando o que os principais exegetas reformados sempre defenderam, ou
seja, que o Apóstolo Paulo falava sobre si mesmo, na condição de cristão. Ao
pregar em Romanos de 8 a 11, Arminius enfatizou o tempo todo o “Livre-arbítrio”
do homem e ao chegar a Romanos 13, afirmou que o Estado tinha a suprema
autoridade em assuntos eclesiásticos e religiosos.
Diante disso, um de seus colegas, Petrus Plancius, o denunciou ao concílio
para ser investigado, já que os rumores da “nova visão” proposta por Arminius
já estava se alastrando por todo o país. Quando inquirido ele confirmava o seu pleno
compromisso com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg, no entanto, estava
evidente que ele tinha problemas com os artigos que tratavam da doutrina da
eleição.
Jacob Arminius foi indicado para lecionar na Universidade de Leiden em
1602, para ocupar a cátedra de um dos seus professores de teologia que havia
morrido em decorrência da praga que assolava o País (peste bubônica). Embora ele se enquadrasse perfeitamente para a
vaga, havia uma grande preocupação quanto à sua ortodoxia. Assim a sua
aceitação ficou nas mãos do Professor/Doutor Franciscus Gomarus que decidiu
entrevista-lo sobre os pontos chaves da doutrina Reformada/Calvinista. Franciscus
Gomarus era um profundo conhecedor da Palavra e um famoso Calvinista. Arminius foi
arguido diante de vários comissários, e rejeitou publicamente as doutrinas
pelagianas quanto a graça natural, livre arbítrio, pecado original e
predestinação. Também prometeu jamais ensinar qualquer coisa em desacordo com a
doutrina oficial das igrejas. Portanto, ele foi aceito como Professor de
Teologia da Universidade de Leiden.
Arminius permaneceu firme nas suas promessas ao ministrar as suas aulas
públicas – as quais eram supervisionadas pelo concílio. Mas o mesmo não ocorria
em aulas particulares. Nessas aulas ele expressava abertamente as suas dúvidas
e questionamentos a doutrina Calvinista. Esses alunos foram fortemente
influenciados por ele e começaram a propagar alguns desses ensinamentos. Por
onde passavam, questionavam duramente a doutrina reformada, atacando-a de
diversas formas possíveis.
Arminius permanecia afirmando estar em pleno acordo com a doutrina
reformada enquanto disseminava seus novos pontos de vista nos bastidores. Seus
adversários o condenam fortemente por demonstrar absoluta falta de caráter
fazendo um tipo de "jogo-duplo".
Ao mesmo tempo, seus defensores o elogiam dizendo que tudo o que ele fez foi
pensando sempre na unidade da universidade e das igrejas.
Diante desse “Jogo-Duplo” as tensões
dentro da igreja aumentaram, e em 1607 o sínodo da Holanda do Sul recebeu formalmente
queixas contra os ensinamentos de Jacob Arminius. O sínodo convocou Jacob
Arminius e o colocou mais uma vez frente a frente com Franciscus Gomarus e os
dois expuseram e compararam seus pontos de vista. Novamente Arminius alegou
total fidelidade à Confissão Belga e como os delegados não conseguiram perceber
grandes diferenças entre o que foi exposto por Arminius e por Gomarus,
recomendaram que houvesse “acordo de paz”
entre eles. Outra conferência foi convocada em 1609, também não redundando em
avanços porém neste mesmo ano Arminius morreu devido a uma tuberculose.
Após a morte de Arminius, o seu ponto de vista teológico foi defendido
principalmente por Simon Episcopius e Johannes Uitenbogaard. Em 1610, sob a direção
de Johannes Uitenbogaard, os defensores
de Arminius (agora autodenominados Arminianos) se reuniram e elaboraram uma
representação/protesto (do inglês remonstrance
- por isso eles se tornaram conhecidos como os remonstrantes) a algumas
doutrinas calvinistas e estabeleceram 5 artigos com suas próprias posições:
1. A eleição está condicionada à previsão da fé.
2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada
homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua
morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).
3. Necessária a regeneração para que alguém seja salvo
(aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, porém mais tarde ficou claro
que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza
humana).
4. A possibilidade de resistir à graça.
5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles
deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).
Os artigos foram assinados por 46 de seus ministros.
Os calvinistas responderam a esse “protesto” contra a doutrina
calvinista. Assim foi formado o grupo conhecido na história como os
contra-remonstrantes. Isso ocorreu em 1611.
A convocação do Sínodo
Esse levante dos remonstrantes começou a tomar proporções perigosas, e
isso fez com que o estado entrasse em ação. Havia pessoas que estavam
utilizando a controvérsia religiosa para incitar rebeliões e outras formas de
ação política. Assim, Maurício de Nassau em 11 de novembro de 1617, decidiu que
um sínodo nacional deveria ser convocado em 1 de novembro de 1618. Essa foi a
pedra fundamental para o surgimento do famoso Sínodo de Dort.
Maurício de Nassau foi encorajado por diversos líderes estatais (um dos grandes incentivadores foi o Rei
Tiago I da Inglaterra), a enviar convites a diversos representantes de
países reformados para que enviassem delegados para participarem do sínodo. O
governo holandês requisitava a cada país que fossem enviados alguns de seus
teólogos mais renomados, de proeminente erudição, santidade e sabedoria, que
com seu “conselho” e “juízo” pudessem trabalhar diligentemente para apaziguar
as diferenças que tinham surgido nas igrejas da Holanda, trazendo paz àquelas
igrejas.
O convite de teólogos estrangeiros foi um meio de se obter uma garantia
de isenção e neutralidade, pois os remonstrantes alegavam que a igreja da
Holanda não era neutra. Outra razão estava ligada ao fato dos remonstrantes
alegarem que outras igrejas protestantes compartilhavam da mesma visão que eles,
deste modo presença dos delegados estrangeiros poderia minar esta e outras dúvidas
similares.
Em 13 de novembro de 1618 foi estabelecido o Sínodo Nacional de Dort.
Todas as despesas seriam pagas pelo governo holandês. O sínodo era composto de
84 membros e 18 comissários seculares. Dos 84 membros, 58 eram holandeses, provenientes
dos sínodos das províncias, e os demais (26) eram estrangeiros. Todos tinham
direito a voto.
Após um culto de oração todos foram para o local das reuniões. O
moderador era Johannes Bogerman. A primeira atividade foi o pronunciamento do
juramento:
"Prometo,
diante de Deus em quem creio e a quem adoro, que está presente neste lugar, e
que é o Perscrutador de nossos corações, que durante o curso dos trabalhos
deste Sínodo, que examinará não só os cinco pontos e as diferenças resultantes
deles mas também qualquer outra doutrina, não utilizarei nenhum escrito humano,
mas apenas e tão somente a Palavra de Deus, que é a infalível regra de fé. E
durante todas estas discussões, buscarei apenas a glória de Deus, a paz da
Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Assim, que me
ajude Jesus Cristo, meu Salvador! Rogo para que ele me assista por meio do seu
Espírito Santo!"
Os membros foram divididos em 18 comitês. A cada questão proposta ao
sínodo, cada um dos comitês formulava sua própria resposta que era depois
apresentada ao Sínodo como um todo. O material escrito era entregue aos
moderadores que compilavam um texto único. Esse texto era aprovado pelos
próprios moderadores ou ia a voto.
O tema principal do Sínodo era o arminianismo. Foram convocados para
comparecer diversos teólogos arminianos. Estes se reuniram antes em Rotterdam e
nomearam oficiais para representá-los. A estratégia deles era atacar os
contra-remonstrantes como sendo fanáticos religiosos. A idéia era centrar
forças contra o supralapsarianismo* de Gomarus.
* Supralapsarianismo, segundo o qual os decretos de
Deus da eleição e da reprovação precederam logicamente o decreto da queda. Ou
seja, o supralapsarismo ordena os decretos divinos de tal maneira que o decreto
de Deus, em relação à predestinação dos homens à salvação ou à reprovação,
antecede seus decretos de criar os homens e de permitir sua queda. Assim, a
sequência resultante seria: 1) Deus decretou salvar certos homens e reprovar
outros; Em consequência disso, 2) Deus decretou criar ambos; Em consequência
disso, 3) Deus decretou permitir a queda de ambos; Em consequência disso, 4) Deus decretou enviar Cristo para redimir
os eleitos; Em consequência disso, 5) Deus decretou enviar o Espírito Santo
para aplicar esta redenção aos eleitos.
Simon Episcopius foi escolhido para ser o orador dos remonstrantes. Logo
na segunda reunião, ele já se indispôs com todos e usou de uma artimanha típica
dos arminianos. Fez duras críticas ao Sínodo, ao governo e ao príncipe
Maurício. Quando instado a fornecer uma cópia do discurso, alegou que este
estava ilegível. Mais tarde concordou em fornecer uma cópia, mas esta não
continha as críticas aos governantes.
A batalha era severa. Os remonstrantes alegavam que o sínodo não tinha
competência para julgá-los. Bogerman, o moderador, retrucava dizendo que o
sínodo havia sido legalmente constituído pelo poder público. Os remonstrantes
deveriam ter aceitado esse argumento, já que sempre defenderam que o estado é a
autoridade máxima nas questões religiosas e eclesiásticas. Ao serem convidados
a colocar no papel suas divergências em relação à Confissão Belga, os
remonstrantes negaram-se a obedecer. Quando Bogerman perguntou sobre o
reconhecimento dos artigos da representação de 1610, estes permaneceram calados.
Como os remonstrantes dificultavam demais os trabalhos, em 14 de janeiro
de 1619 Bogerman perguntou a eles definitivamente se eles iriam comportar-se e
submeter-se ao Sínodo. Eles responderam que não se submeteriam ao Sínodo.
Irritado, Bogerman mandou-os embora sem consultar os demais membros do conselho.
A análise dos questionamentos Arminianos passaram a ser analisados através de suas
opiniões escritos. O principal documento analisado pelo sínodo foi a
representação de 1610 com seus 5 artigos.
O documento final, os Cânones de Dort, foi formulado em 93 artigos,
separados em 5 pontos de doutrina. O documento foi assinado por todos os
delegados em 23 de Abril de 1619. Foram ao todo 154 reuniões ao longo de sete
meses. Prevaleceu a interpretação ortodoxa.
Muitos consideram injustas as medidas tomadas após o sínodo. Afinal,
mais de 200 ministros remonstrantes foram depostos de seus cargos. Alguns se
retrataram e retornaram às suas funções, mas boa parte foi definitivamente
banida. Mas é bom lembrar que o que hoje seria considerado, talvez, indevida
perseguição religiosa, era uma prática absolutamente comum a todas as religiões
e países da época.
Temos que ter em mente que muitos dos ministros remonstrantes eram
mantidos em seus cargos mesmo quando eles deliberadamente violavam o juramento
que fizeram de manterem-se fiéis à confissão belga e ao catecismo de Heidelberg,
isso era conseguido por meio do apoio e ardis de políticos poderosos. Enquanto
isso, os mesmos políticos perseguiam os contra-remonstrantes chegando ao ponto,
em algumas situações, de impedi-los de ter acesso aos locais de culto. A
controvérsia Arminiana eram freqüentemente usadas para fins políticos.
Temos que lembrar que outras religiões eram toleradas na Holanda naquele
período, apesar de não poderem construir templos próprios. Entre estes haviam
peregrinos, luteranos, anabatistas e até mesmo católicos romanos. Mas nenhum
deles ameaçava a igreja "de dentro" como faziam os arminianos.
O Sínodo de Dort foi extremamente importante por ter revelado a
tentativa dos arminianos de diminuírem/suprimirem a soberania de Deus na
salvação, engrandecendo o papel do homem na sua própria salvação, colocando o
homem acima do próprio Deus, tendo o controle total sobre si mesmos. Diante da
visão Arminiana Deus tem que se sucumbir aos desejos e desígnios de sua própria
Criação!
Em resposta aos cinco pontos divergentes apresentados pelos
remontrantes, os delegados do Sínodo de Dort propuseram o que hoje conhecemos
como sendo os “cinco pontos do calvinismo” e um acróstico foi criado para
facilitar a lembrança de cada ponto.
A esse acróstico deu-se o nome de TULIP:
Total depravação
Uma eleição incondicional
Limitada expiação
Irresistível graça
Perseverança dos santos
É importante salientar que a doutrina reformada não se resume aos “cinco
pontos do calvinismo”. Os cinco pontos além de serem uma resposta direta aos
“cinco pontos do Arminianismo”, buscando demonstrar a diferença entre os dos
Calvinistas e Arminianos, principalmente na relação da soberania de Deus e a
salvação – soteriologia monergista. O
ensino de Calvino é muito mais amplo e abrangente e, não se resumem apenas aos
cinco pontos.
Nós acreditamos que existe a necessidade de se conhecer profundamente as
origens de nossas crenças, para que não sejamos lançados de um lado para outro
como um barco sem leme em uma tempestade ou como ovelhas sem pastor, e
reconhecer que durante a história da igreja várias doutrinas como a Trindade e
a dupla natureza de Cristo, a Eleição, Predestinação estiveram sob ataque porém
homens corajosos, compromissados com a verdade e tementes a Deus, sempre se
levantaram e se levantarão para batalhar "diligentemente, pela fé que
uma vez por todas foi entregue aos santos” - Judas 3.
Irmãos esse foi apenas o primeiro artigo de uma série de artigos que
trataremos de cada letra do acróstico TULIP. Antes de tratarmos de um assunto é
sempre importante conhecer o que levou a tal resolução. Assim nos próximos dias
iremos destrinchar sobre esse maravilhoso tema que enaltece o nosso Deus, e coloca
o homem no devido lugar dele. E conhecer as Doutrinas da Graça nos ajudará a
discernir entre a verdadeira adoração, entre o verdadeiro louvor, entre o
verdadeiro Evangelho. Deste modo esperamos que os irmãos possam se deleitar com
esses estudos sobre as Doutrinas da Graça – TULIP.
Abaixo segue-se uma lista de textos bíblicos que os irmãos poderão
consultar para aumentar a compreensão das Doutrinas da Graça.
Total depravação:
REFERÊNCIAS
BÍBLICAS:Gn 2:17; Gn 6:5; Gn 8:21 / 1Rs 8:46 / Jo 14:4 / Sl 51:5 / Sl 58:3 / Ec
7:20 Is 64:6 / Jr 4:22; Jr 9:5-6; Jr 13:23; Jr 17:9 / Jo 3:3; Jo 3:19; Jo
3:36;Jo 5:42; Jo 8:43,44 / Rm 3:10-11; Rm 5:12; Rm 7:18, 23; Rm 8:7 /1Co 2:14 /
2Co 4:4 / Ef 2:3 / Ef 4:18 / 2Tm 2:25-26 / 2Tm 3:2-4 / Tt 1:15
Eleição
incondicional
REFERÊNCIAS
BÍBLICAS:Dt 4:37; Dt 7:7-8 / Pv 16:4 / Mt 11:25; Mt 20:15-16; Mt 22:14 / Mc
4:11-12 Jo 6:37; Jo 6:65; Jo 12:39-40; Jo 15:16 / At 5:31; At 13:48; At
22:14-15 /Rm 2:4; Rm 8:29-30; Rm 9:11-12; Rm 9:22-23; Rm 11:5; Rm 11:8-10 /Ef
1:4-5; Ef 2:9-10 / 1Ts 1:4; 1Ts 5:9 / 2Ts 2:11-12; 2Ts 3:2/ 2Tm 2:10,19/1 Pe
2:8 / 2 Pe 2:12 / Tt 1:1 / 1Jo 4:19 / Jd 1:3-4 / Ap 13:8; Ap 17:17
Limitada expiação
REFERÊNCIAS
BÍBLICAS:1Sm 3:14 / Is 53:11-12 / Mt 1:21; Mt 20:28; Mt 26:28 / Jo 10:14-15 /Jo
11:50-53; Jo 15:13; Jo 17:6,9,10 / At 20:28 / Rm 5:15 / Ef 5:25 / Tt 3:5 /Hb
9:28 / Ap 5:9
Irresistível graça
REFERÊNCIAS
BÍBLICAS:Jr 24:7 / Ez 11:19-20; Ez 36:26-27 / Mt 16:17 / Jo 1:12-13; Jo 5:21;
Jo 6:37; Jo 6:44-45 / At 16:14; At 18:27 / 1Co 4:7 / 2Co 5:17 / Gl 1:15 / Rm
8:30 / Ef 1:19-20 / Cl 2:13 / 2Tm 1:9 / 1Pe 2:9; 1Pe 5:10 / Hb 9:15
Perseverança dos
santos
REFERÊNCIAS
BÍBLICAS:Is 54:10 / Jr 32:40 / Mt 18:14 / Jo 6:39; Jo 6:51; Jo 10:27-29 / Rm
5:8-10; Rm 8:28-32, Rm 8:34-39; Rm 11:29 / Gl 2:20 / Ef 4:30 / Fp 1:6 / Cl 2:14
/2Ts 3:3 / 2Tm 2:13,19 / Hb 7:25; Hb 10:14 / 1Pe 1:5 / 1Jo 5:18 / Ap 17:14
Graça e Paz
Por Leandro Rocha
Paz do Senhor irmão Leandro,
ResponderExcluirEntrar nesse blog é sempre uma alegria e uma surpresa. Quando me deparei com as palavras Armínio e Calvinista e logo em seguida Sínodo de Dort, posso dizer que o meu coração bateu mais forte. Embora o irmão tenha deixado claro em sua biografia resumida no final do texto que não possui formação teológica formal, ou seja, não tenha cursado um seminário, percebo que tanto você quanto o irmão Márcio dedica um grande tempo estudando os temas Bíblicos. Nesse texto em especial o irmão demonstrou um profundo conhecimento histórico e doutrinal relacionado com a história da igreja reformada. O irmão conseguiu traçar uma linha interligando Lutero, Calvino e Armínio com os principais problemas sociais que estavam se infiltrando dentro da Holanda no início do Século XVII, e digamos de passagem que foram problemas bem similares ao que a igreja cristão enfrentou no 4° século com a estatização da Religião. Ficou bem claro no texto a preocupação com a ortodoxia doutrinal, e como Armínio se mostrou dúbio diante do confronto.
Alegro-me em poder desfrutar de páginas como a sua que lutam por manter a verdade acima dos achismos góspels. Deus tem abençoado muito os irmãos que estão dedicando tempo e estudo para nos alimentar.
Graça e Paz